segunda-feira, 14 de dezembro de 2015


A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E A SÍNDROME DE DOWN:
INCLUIR AONDE?

Encerrei o meu primeiro artigo na edição passada defendendo a ideia de que para sermos realmente inclusivos temos que romper com o dualismo igual X diferente. Dessa vez, o convite que me fizeram foi para escrever sobre o universo da  Síndrome de Down e a chamada Educação Inclusiva. Sempre quando alguém coloca essa questão, as primeiras perguntas que me vem mente são as seguintes: de que escola estamos falando? Qual é o formato de escola que estamos tentando incluir? Qual é realidade de nossa escola hoje?
Sinto a necessidade então de voltar um pouco no tempo. Segundo o ainda atual pedagogo brasileiro, Paulo Freire, falar sobre o passado é importante para podermos refletir no aqui e agora reiterando sempre que podemos mudar os rumos de um futuro próximo. Com raras e instigantes exceções, a escola, do jeito que ela ainda existe hoje, foi criada entre os séculos XVIII e XIX.  
Não querendo me estender muito sobre esse tema, vem logo uma outra indagação : porque esse sistema de ensino foi criado? A resposta não é simples, mas o objetivo foi o de produzir pessoas em série para se tornarem produtoras e consumidoras no sistema que estava emergindo na época: o capitalismo. Daí, caro leitor, as pessoas catalogadas como incapazes e improdutivas foram alijadas dessa escola que tinha como intenção, nos revelou o filósofo Michel Foucault, criar “corpos dóceis e úteis”. No início, não havia opção nenhuma para elas. Só depois, nasceu a chamada Escola Especial.
Pensemos um pouco no Brasil, sobretudo na escola pública. Históricamente falando, até a década de 60, já estamos no século XX, a grande maioria das pessoas vivia no campo. Entre esse período e a década de 80, houve uma surpreendente inversão desse número com o intitulado êxodo rural, ou seja, as grandes cidades passaram a ser a moradia, a maioria precária, da maioir parte da população.
Mas o que esse fenômeno tem a ver com nosso tema? Antes da forte imigração, quem estudava na escola pública era uma elite que passava as férias na Europa. Da década de 80 em diante, a escola pública foi tendo que crescer para receber as pessoas que estavam chegando até que, nos anos 90, começou-se o discurso de que o ensino deveria ser para todos.
Pois bem, não muito tempo depois (lá pelo meio dos anos 90), veio o debate sobre a inclusão da Pessoa com Deficiência nessa mesma rede de ensino. Na prática então foram duas inclusões simultâneas: a dos moradores do campo e a das também chamadas hoje como pessoas com necessidades educacionais especiais. Enquanto isso, pensemos juntos leitor, a escola continuava (e continua) a tentar ensinar do mesmo jeito que fazia para a elite dos anos 60, desconsiderando por completo o novo público que estava batendo em sua porta.
Na maioria das vezes, o formato da sala de aula continua o mesmo. Alunos enfileirados, cada um olhando a nuca do outro, se resumindo a ouvir e anotar todo um conteúdo imposto de cima de baixo, sem levar em consideração a história de vida, a realidade social e econômica e as particularidades de seus educandos. A própria palavra aluno, que significa “sem luz”, sequer foi discutida.
Uma nova pergunta vem necessariamente à tona: como universalizar o ensino em uma escola que não foi criada para todos? O resultado parece estar claro para todos: a exclusão de todos aqueles que, seja por qual motivo for, não conseguem acompanhar o ritmo frenético das informações transmitidas pelo professor, em que a quantidade continua a ser mais importante do que a qualidade. É o que o Paulo Freire chamou de Educação Bancária.
O especialista em alfabetização e mentor na Escola da Ponte em Portugal, José Pacheco, não se cansa de falar: provas como a do ENEM servem apenas para medir a memória a curto prazo dos alunos e não o que eles realmente aprenderam, o que ficou de verdadeiramente significado.
A própria comunidade científica vem debatendo insistentemente essa questão da memória, ou da ausência dela, para, por exemplo, as pessoas com a Síndrome de Down.  Mas de que memória estamos falando? Quantas vez me deparei, ao transitar por determinado lugar já conhecido, a seguinte indagação de meu filho: “pai, você se lembra daqui?”. E a minha memória a longo prazo, naquele exato instante, costuma sempre falhar. “Não me lembro filho”. Daí, para surpresa de todos, Thiago trata logo de contar com detalhes até minha memória ser acionada. “É mesmo filho. Agora me lembro”.
Prezado leitor, espero que você tenha acompanhado meu raciocínio. O que está em jogo aqui são duas concepções de inclusão. Aquela que eu gosto de chamar de adequativa, pressupondo que o equivocadamente chamado “aluno de inclusão” tem que se adaptar a um modelo de ensino visto como pronto e acabado.  Nesse caso, podemos evocar a letra do músico Nando Reis, cantada magistralmente por ele e pelo Arnaldo Antunes: “Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia, (...). Eu não vou me adaptar, me adapar”.
A outra concepção de inclusão, portanto, é a que a intitulada aula não seja mais tecnicista, conteudista e muito menos exaustivamente expositiva, sem a participação efetiva do aluno na construção de seu próprio processo de aprendizagem. As chamadas disciplinas, que deveriam ser na verdade áreas do conhecimento, não podem mais ser expostas mecanicamente, sem a preocupação com significado delas para a realidade do aluno.
Com isso, cada educando, com sua especificidade e condição, vai traçando seu roteiro de estudo específico, levando em conta interesses, desejos, necessidades e mesmo dificuldades. E isso, caro leitor, vale para todos, incluindo os que têm Síndrome de Down ou outra das rotuladas como deficiências. O que seria então uma legitima inclusão para aqueles que não conseguem acompanhar a denominada escola tradicional?

Mais uma vez, são inúmeras as concepções. Convido a todos para continuarem comigo na próxima edição quando trarei algumas ideias de mudança de estrutura da escola que podem contribuir para maximizar ao extremo o aprendizado das, por exemplo, pessoas com a Síndrome de Down, valendo sempre enfatizar: não existe pessoas com essa síndrome iguais e também inexiste receitas de bolo explicitamente para todas elas. Dito isso, podemos sim criar estratégias de ensino que vão nos ajudar a pensar e a ampliar ao máximo a aprendizagem dos que apenas nasceram com o Cromossomo 21 a mais e nada mais. Vamos juntos?


Texto Guga Dorea.
Revista Pé da Serra

terça-feira, 29 de julho de 2014

A DISLEXIA FICOU FAMOSA

Dislexia é um transtorno genético e hereditário da linguagem, de origem neurobiológica, que se caracteriza pela dificuldade de decodificar o estímulo escrito ou o símbolo gráfico. A dislexia compromete a capacidade de aprender a ler e escrever com correção e fluência e de compreender um texto. Em diferentes graus, os portadores desse defeito congênito não conseguem estabelecer a memória fonêmica, isto é, associar os fonemas às letras.
As prováveis causas da dislexia são partos prematuros, icterícia, falta de oxigenação durante o parto ou alteração cromossômica hereditária.
De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia, o transtorno acomete de 0,5% a 17% da população mundial, pode manifestar-se em pessoas com inteligência normal ou mesmo superior e persistir na vida adulta.
Para se ter um diagnóstico correto da dislexia, é necessária a avaliação de uma equipe multidisciplinar como, neurologista, psicopedagogo, fonoaudiólogo e psicólogo. Onde apenas o neuro pode dar o diagnóstico final. Não exite antes de procurar todos esses profissionais e exigir antes de mais nada, os pedidos de exames, investigações como possíveis alterações no processamento auditivo, o BERA, *(exame do potencial evocado auditivo do tronco encefálico) que avalia a integridade funcional das vias auditivas nervosas desde a orelha até o córtex cerebral. Não aceite que nenhum médico prescreva remédios que estão na moda para seu filho(a), sem antes ter um diagnóstico minucioso, com exames todos os exames feitos.
Muitas vezes a dislexia vem associada a outros transtornos, o que é normal, não se assuste e nem ache que será o fim do mundo. O disléxico terá que aprender a evidenciar seus talentos e driblar suas dificuldades ao longo da vida, o que de certa forma todos nós fazemos.
É importante que o diagnóstico seja feito o quanto antes, ainda na fase de alfabetização, para evitar que sejam atribuídos rótulos depreciativos, com reflexos  negativos sobre sua auto-estima e projetos de vida.
Portanto não aceite diagnósticos precoces, investigue, faça exames, procure outro médico se ficar com qualquer dúvida e principalmente, não desista! Ter o diagnóstico nas mãos com certeza ajudará na fase escolar, pois você terá um suporte perante a lei, que determina que os professores devem aplicar estratégias diferenciadas, como permitir que o aluno use o computador para elaborar trabalhos escritos ou utilize um gravador, quando o assunto for muito dificil.
Os professores também devem permitir o uso da máquina de calcular durante as lições de matemática, bem como nas provas aplicadas e que responda as questões dos testes oralmente, e refazer o teste quando necessário, atribuindo nota extra para compensar as notas baixas.
A proposta é diminuir os prejuízos emocionais ao estudante fazendo com que ele prossiga seus estudos junto aos demais colegas de classe. 
A lei é válida para todos os estabelecimentos de ensino da cidade e autoriza ainda a visita à unidade escolar dos profissionais para avaliação do peoveito da aplicação das estratégias e artifícios oferecidos aos alunos portadores da dislexia.
Portanto use e abuse dos seus direitos e nunca deixe de se informar e atualizar sobre as novas leis à seu favor. Use os serviços oferecidos pelo governo e exija o que lhe é devido. Mas nunca entre na "Onda da dislexia". Exija exames e um diagnóstico sério, não medique antes de ter certeza e não se deixe enganar por profissionais menos esclarecidos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A síndrome de down, a escola e os profissionais de apoio.


POR QUE INCLUSÃO ?

Há muitas razões por que uma criança com Síndrome de Down deve ter a oportunidade de frequentar uma escola comum. Cada vez mais pesquisas tem sido publicadas e o conhecimento sobre as capacidades de crianças com Síndrome de Down e o potencial de serem incluídos com sucesso tem aumentado. Ao mesmo tempo, os pais têm se informado mais sobre os benefícios da inclusão. Além disso, a inclusão é não discriminatória e traz tanto benefícios acadêmicos quanto sociais.

Acadêmicos
- Pesquisas mostram que as crianças se desenvolvem melhor academicamente quando trabalham num ambiente inclusivo

Social
- Oportunidades diárias de se misturar com seus parceiros com desenvolvimento típico proporcionam modelos para comportamento de acordo com a faixa etária
- As crianças têm oportunidade de desenvolver relações com crianças de sua própria comunidade
- Ir à escola comum é um passo chave em direção à inclusão na vida comunitária e na sociedade como um todo.

A inclusão bem-sucedida é um passo importante para que crianças com necessidades educacionais especiais se tornem membros plenos e contributivos da comunidade, e a sociedade como um todo se beneficia disso. Os colegas com desenvolvimento típico ganham conhecimento sobre deficiência, tolerância e aprendem como defender e apoiar outras crianças com necessidades educacionais especiais. Como escreve David Blunkett “ quando todas as crianaças saõ incluídas como parceiros iguais na comunicade escolar, os benefícios são sentidos por todos.
ATITUDE POSITIVA
Mas a inclusão bem-sucedida não acontece automaticamente. A experiência mostra que um dos ingredientes mais importantes na implementação bem-sucedida de um aluno com necessidade de aprendizagem específia é simplesmente a vontade de que ela ocorra. A atitude da escola como um todo é, portanto, um fator significativo. Uma atitude positiva resolve problemas por si só. As escolas precisam de uma política clara e sensível sobre inclusão de sua direção e coordenação, que devem ser comprometidas com esta política e apoiar seus funcionários, ajudando-os a desenvolver novas soluções em suas salas de aula.
As crianças com Síndrome de Down não apenas levam mais tempo para se desenvolver e portanto precisam de um currículo mais diluído. Elas têm, em geral, um perfil de aprendizagem específico com pontos fortes e fracos característicos. Saber dos fatores que facilitam e inibem o aprendizado permite aos professores planejar e levar adiante atividades relevantes e significativas e programas de trabalho. O perfil de aprendizado característico e estilos de aprendizado de uma criança com Síndrome de Down , junto com suas necessidades individuais e variações do perfil devem, portanto, ser considerados.
Embora os alunos com Síndrome de Down costumem ser muito bons em aprender visualmente e sejam capazes de utilizar este habilidade para aprender o currículo, muitos têm alguma dificuldade de visão: de 60 a 70% usam óculos antes dos 7 anos e é importante diagnosticar e sanar as dificuldades que eles possuem.
 Coloque o aluno mais à frente
- Escreva com letras maiores
- Faça apresentações simples e claras
-Fale diretamente ao aluno
- Reforce o discurso com expressões faciais, sinais ou gestos
- Reforce o discurso com material de apoio visual – figuras, fotos, objetos
- Escreva novo vocabulário no quadro
- Quando outros alunos responderem, repita suas respostas alto
- Diga de outra forma ou repita palavras e frases que possam ter sido mal-entendidas.Crianças com Síndrome de Down típicas possuem dificuldade de fala e linguagem e devem ser atendidas regularmente por fonoaudiólogos que podem sugerir atividades individualizadas para promover o desenvolvimento de sua fala e linguagem.
Problemas de fala e linguagem para estas crianças normalmente significam que menos oportunidades lhes são oferecidas para manter uma conversação. É mais difícil para eles pedir informação ou ajuda. Os adultos costumam fazer perguntas fechadas, ou terminar uma frase pelas crianças sem lhes dar tempo para falarem por si próprios nem ajudar para que eles consigam fazê-lo.

A consequência disso é que a criança:
- Ganha menos experiência de linguagem que lhe dê oportunidade de aprender novas palavras e estruturas de período.
- Tem menos oportunidade de praticar para tentar falar com mais clareza
Muitas crianças com Síndrome de Down têm uma capacidade de concentração mais curta e são facilmente distraídos. Além disso, a intensidade do aprendizado com apoio, especialmente quando ele se dá individualmente, é muito maior e a criança se cansa mais facilmente do que a criança que não necessita deste apoio.
A arte terapia entra nesse caminho como um apoio , um caminho e um reforço de sucesso.
Acho importante os pais e cuidadores da criança com síndrome de down , oferecerem  possibilidades, deixá-las viverem todas as situações, deixá-las criarem uma individualidade e personalidade. O caminho para isso é a escola e a  infinidade de recursos e profissionais de apoio. E a arte terapia é um deles.
Presenciei essa evolução, esse desabrochar pessoalmente nas oficinas de arte terapia que eu ministrava em  crianças, adolescentes e adultos com síndrome de down. A melhora era rápida, perceptível e a socialização muito maior. Quando eles entram em contato com o poder que eles adquirem de fazer e criar sozinhos, a autoconfiança, a concentração, a estima renasce, trazendo novas aquisições  de comunicação e de se relacionar consigo mesmo, com a família e com a sociedade.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

DEFICIÊNCIA E SEXUALIDADE

O estereótipo do deficiente como sexualmente agressivo ou assexuado, é uma
extensão da visão popular do deficiente como “uma eterna criança”.
 Estas representações sociais se tornam, então, justificativas para negação de sua sexualidade e, consequentemente, para a ausência de orientação
sexual a esta população.
 Chama atenção, também, que embora pais e profissionais reconheçam que os
jovens deficientes têm interesse em namoro, sexo e, até mesmo, casamento, a maioria
nunca namorou, e poucos participam de reuniões e atividades sociais, não protegidas.
Sobretudo os jovens com déficits cognitivos e distúrbios de comportamento, não têm
oportunidade de vivenciar relações amorosas próprias dos adolescentes.
 Aí, quando esses jovens exibem compor tamentos sexuais
considerados socialmente inapropriados, estes são interpretados como “sintoma de sua
patologia”, e adotam-se medidas repressoras (abertas ou veladas), inclusive através do
uso de medicação.
Mas é justamente devido ao processo de inclusão que esses jovens, resgatados
dos espaços confinados da instituição especializada e de suas casas vêem aumentada
sua exposição a situações de risco físico e emocional, já que eles tem menores
condições de aprender por si sós como se proteger. É claramente observado que os
jovens deficientes ainda não são e não estão preparados para assumirem com segurança
sua sexualidade e, se não forem orientados por profissionais que tratam desse assunto
com naturalidade, poderão se transformar em adultos frustrados, infelizes e inseguros.
Para que haja inclusão, é fundamental a aceitação desses jovens como cidadãos
plenos, sem negar a sua sexualidade. É preciso que sejam aceitos pela sociedade, e mais
importante, por eles próprios. Caso contrário, os problemas oriundos da sexualidade não
resolvida de jovens com deficiências serão usados como mais um fator discrimitorio e
impeditivo de sua inclusão educacional e social.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

DCV –Déficit Visual Cortical

 

COMO SE INICIA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM VISUAL?

 

A visão é um fenômeno hermético e que inclui quatro etapas bem distintas: percepção, transformação, transmissão e interpretação.
A diversidade de patologias que provocam déficit visual e suas incidências num processo tão complexo como é o da visão trazem como conseqüência um comportamento visual muito heterogêneo, com exceção das perdas visuais de origem cerebral, pois, estas possuem características totalmente diferenciadas de todas as demais. Evidentemente, as diferenças individuais fazem com que cada pessoa se adapte de forma totalmente diferente segundo seu nível cognitivo, idade, personalidade, meio social e familiar, etc.
Segundo, o Déficit Visual Cortical é uma perda visual bilateral com respostas pupilares normais (as quais são produzidas no tronco cerebral) e sem anormalidades óbvias nos olhos. Contata-se que os componentes anteriores do sistema visual estão intactos, mas os componentes posteriores encontram-se comprometidos, assim, dependentes da área do cérebro afetada terão características muito diferenciadas.
“A deficiência visual cortical (DVC) é considerada uma alteração no cérebro, envolvendo a córtex visual em decorrência de acentuada prematuridade, ou situações críticas de sobrevivência, por isso, essas crianças apresentam, com freqüência, múltiplas deficiências e, até bem pouco tempo, eram consideradas cegas.”
De modo geral, apresentam grandes dificuldades para o controle de sua motilidade ocular, para realizar fixações continuadas (em muitos casos se dá a coincidência de diferentes patologias na mesma pessoa: assim, por exemplo, o nistagmus aparece associado a um bom número de patologias congênitas) e podem não apresentar nenhuma capacidade de acomodação (focalizar a diferentes distancias), etc.
As funções óculo-motoras, capacidade de fixar, focalizar, seguir os objetos no espaço e a coordenação olho-mão interfere no desenvolvimento e resolução visual e, sem estas funções estas crianças não desenvolveriam uma capacidade de acomodação apropriada.
“A acomodação foi concebida  como o processo de formação de imagem clara na retina. Segundo a autora, a acomodação interferiria na resolução visual para atividades de perto; uma disfunção acomodativa resultaria em imagem nebulosa, estresse físico, mental, fadiga e irritação.

”Se o sistema visual estiver danificado e o prejuízo estiver nas partes do cérebro onde se processa a imagem, a estimulação visual é necessária. O cérebro necessita de 'experiências de visão’ para que possa organizar novas funções visuais “A capacidade de ver e interpretar as imagens visuais depende fundamentalmente da função cerebral de receber, codificar, selecionar, armazenar e associar essas imagens a outras experiências anteriores.”
No campo da interpretação da informação, evidentemente relacionada com a situação a nível neurológico, a existência de um déficit sensorial da visão constitui por si só um obstáculo à aprendizagem. O desenvolvimento do pensamento e do raciocínio está conectado às experiências sociais a que as crianças estão expostas, cujos fatores biológicos são determinantes apenas no início da vida

“A carência de visão ou visão deficiente provoca problemas como a limitação de oportunidades de interação ou experimentação do meio. Estes podem afetar o desenvolvimento evolutivo das crianças que os padecem provocando retardos e dificuldades sobre alguns aspectos das áreas cognitivo-perceptiva, motriz e expressivo-afetiva.”
“A visão residual deve ser usada ao máximo de sua capacidade”, desde o ponto de vista perceptivo e de aprendizagem significa que quanto mais utilizar a visão, mais eficácia visual se obtém. Portanto, a visão é uma função aprendida, e sua qualidade pode melhorar com treinamento durante um período de tempo adequado.
“A distância da informação que separa um grupo social de outro não pode ser atribuída a fatores puramente cognitivos. Esta distância diminui quando o que está em jogo é o raciocínio da criança, aumenta quando se necessita contar com informações precisas do meio.
Assim, a capacidade de funcionamento visual da criança depende fundamentalmente de seu desenvolvimento. Sua memória visual ainda encontra-se em amadurecimento. Quanto mais a criança é estimulada a olhar, principalmente em pequena distância, mais estimula os canais perceptivos para o cérebro que recebe mais e mais informações, proporcionando uma eventual acumulação de variedades de imagens. Tanto a memória que se forma como a idéia que ganha corpo, se constituem por ação de uma função cognitiva presente tanto nos níveis superiores como inferiores, designando um ‘pensamento visual’.
O cérebro deve direcionar sua própria recuperação através da adaptação à estimulação e fornecimento de mais estímulos para si próprio. Ninguém pode fazer isso por ele. Piaget, citado por Ayres (1995), enfatizou que o estímulo e a resposta eram circulares, em um ambiente onde existem muitos estímulos, o indivíduo responde freqüentemente e de mais diferentes maneiras, e cria uma quantidade e variedade maior de estimulação para si mesmo.
Obsevou-se o efeito crowding nas crianças com DVC, isto é, falta de habilidade de seleção da imagem, eles demonstravam dificuldade para observar objetos ou figuras colocadas próximas ou juntas, mas podiam identificar mais rapidamente se estivessem destacadas e mais separadas no espaço. Elas podiam alcançar objetos focados para seus olhos e fazendo isto, eliminariam informações não essenciais, porque poderiam examinar apenas o objeto que entrava no seu campo visual.”
Uma estimulação adequada, experiências anteriores, motivação do ver, cultivo da atenção, as necessidades que lhe vão surgir e a aprendizagem fará com que as capacidades visuais inatas se realizem e se reparem. Cada criança possui um caminho preferencial para essa aquisição. A partir daí, devemos ter este caminho e direcionamento perceptivo sempre em mente, objetivando cada vez mais a motivação e simplificação da compreensão ou o aprendizado destas crianças.
Para conseguir um adequado desenvolvimento da criança com baixa visão, é necessário que se lhes facilite o acesso à maior quantidade de informação procedente do meio através de uma adequada estimulação visual já que déficit visual provocará limitadas oportunidades para acumular informações do meio.”
Os estímulos visuais, a princípio, precisam ser simples e isolados, devendo gradativamente atingir estímulos mais complexos. Devendo-se ter o cuidado de trabalhar uma função de cada vez. É preciso ter cuidado com os excessos. Necessitam de alto-contrastes principalmente preto no branco e branco no preto, diversificando as texturas (alto-relevo, médio-relevo, baixo-relevo, e aos poucos, sem nenhum relevo) para trabalhar as funções visuais-cognitivas, visomotoras e coordenação motora.
“o contraste pode ser potencializado por meio de lentes e filtros: além de lentes para melhorar a imagem, são recomendados filtros para diminuir o ofuscamento, o brilho e aumentar o contraste, melhorando a nitidez da imagem.”

O tempo de aprendizagem de uma criança com baixa visão varia de acordo com as condições e estímulos que serão oferecidos a ela. A velocidade e a precisão de respostas dependem do registro da imagem no léxico visual pela freqüência com que a criança já foi exposta e por tê-la acoplado ao seu sentido e da capacidade de raciocínio inferencial (dedutível) que possui permitindo-lhe antecipar itens ainda não visto. “As crianças com deficiência visual cortical necessitam de mais tempo, aproximadamente o dobro das crianças com apenas baixa visão.”

“Para Yakalov, o desenvolvimento das funções perceptivas superiores pode ocorrer até os dezesseis anos. Acreditamos que o desenvolvimento não é só biologicamente determinado, mas socialmente facilitado. E que o mundo não é visto simplesmente em cor e forma, mas sentido pela vivência e elaborado pelo significado.” (O processo é aparentemente lento, principalmente nos primeiros estágios, mas, à medida que há amadurecimento das funções e ampliação das capacidades a evolução estará mais perceptível. A família é muito importante para o desenvolvimento das potencialidades da criança, pois, é o apoio familiar irá favorecer a concepção de uma rotina visual, reforçando atividades e condutas realizadas nos atendimentos.
Desde muito cedo entendemos que a nossa vida é um eterno processo de aprendizagem. A aprendizagem, o trabalho que envolve atividades tanto do domínio da memória como da idéia, é de fato uma das condições que favorecem investir no raciocínio. Ver é, sem dúvida, um dos seus fatores principais assim como,  recoletar memórias,  desenvolver idéias e resolver problemas são capacidades próprias do intelecto.

 

Por Lucimar Sidney.

IPad pode ajudar crianças com deficiência visual, diz pesquisa.



O iPad pode ajudar a melhorar os resultados dos tratamentos de crianças com deficiência visual cortical (DVC), um transtorno neurológico grave causado por um dano cerebral que as impede de interpretar a informação visual que recebem, segundo um trabalho de campo publicado em 2011.

A intervenção antecipada na vida das crianças que padecem desta incapacidade é fundamental, afirmam os pesquisadores da Universidade do Kansas, já que, com as técnicas adequadas, a visão pode melhorar com o passar do tempo --e o iPad poderia ter um papel "crucial" neste processo.

Esta deficiência pode se manifestar desde o nascimento e sua gravidade depende do tipo de lesão do paciente, mas sempre requer cuidados específicos e uma educação especial.

Muriel Saunders do Life Span Istitute da Universidade do Kansas, especializado em pacientes com incapacidades, utilizou os tablets da Apple em seu trabalho terapêutico com um grupo de 15 crianças. "Ficamos totalmente surpresos", comentou.

"As crianças que normalmente não veem as pessoas, não respondem a objetos ou respondem de uma maneira muito repetitiva, ficaram fascinadas com o iPad", destacou a médica, que ajuda a desenvolver as habilidades da linguagem nos pequenos pacientes.

Tradicionalmente os terapeutas que tratam estas crianças usam uma caixa de luz, similar a que os médicos empregam para ver uma radiografia, já que é mais fácil ver as luzes e os objetos em alto contraste.

"Uma pessoa com DVC grave passa muito tempo olhando para as luzes. Embora não distingam com clareza, pode ser que vejam algo, mas não veem os rostos ou os objetos. Portanto, é como se fossem cegos", explicou Muriel.

A médica seguiu a sugestão de um de seus colaboradores de usar o iPad como réplica da caixa de luz e descobriram que as possibilidades de interagir com sons e cores são muito mais atrativas para as crianças.

Por enquanto estão sendo utilizados alguns aplicativos simples para que, tocando a tela, apareçam sons, imagens e silhuetas de cores sobre um fundo branco.

Muriel frisou que esta é apenas uma pequena amostra e ainda falta uma pesquisa formal para documentar o poder do iPad para ajudar estas crianças.
"Usando o iPad, os meninos não só podem interagir com a tela, mas podem aprender por meio de uma série de passos a controlar as coisas nessa tela", considerou a médica, que agora procura financiamento para realizar uma pesquisa mais profunda.

Durante os testes iniciais, Muriel contou com a colaboração de especialistas do Junior Blind of America, uma instituição que se dedica a trabalhar com crianças cegas.

Fonte: www.folha.com.br