sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A dança no universo dos deficientes

 

Hoje já existem academias, faculdades, grupos de dança, onde a preocupação com a inserção social é real. Não mais em projetos, mas no dia a dia dos portadores de diferentes deficiências, existem cursos acontecendo, oportunidades sendo apresentadas, o que falta ainda é mais divulgação.

Cursos de pós graduação em dança com preparação para trabalhar com deficientes, companhias de dança que dão oportunidade para deficientes fazerem parte do quadro de dançarinos e até coreógrafos, como o Marquinhos, já fazem parte do nosso universo.

Tentarei mostrar o máximo de opções acontecendo nas cidades para que vocês possam achar algo que lhes interesse e participem, façam aulas, ganhem força, musculatura, alegria, interação, conquistem espaço, façam de suas vidas um acontecimento. 

A maioria das metodologias do ensino do movimento são 100% visuais, ou seja, o aluno faz o seu movimento copiando o professor.

Porém, nem todos os alunos tem desenvolvida a capacidade de aprender através da cópia.
A metodologia de ensino "Penso, logo danço" é uma alternativa pedagógica para o ensino do movimento que concretiza a possibilidade aprendê-lo sem a cópia do mesmo. Esta abordagem é realizada através do raciocínio lógico, da combinação de estruturas e de explicações auditivas do movimento, desenvolvendo a consciência corporal do aluno. É aplicado à Dança de Salão devido aos mais de 10 anos de experiência prática e investigações da autora nesta área, mas pode ser utilizado para o ensino de qualquer movimento.


Esta abordagem é realizada através de linhas de raciocínio, lógica, combinação de estruturas, imaginação dos movimentos e o uso do canal auditivo como elo de ligação entre o corpo e a mente, desenvolvendo a consciência corporal do aluno. A partir de movimentos simples, que já fazem parte do dia-a-dia das pessoas, proporciona-se a consciência corporal organizando e nomeando os movimentos. Com a obtenção deste nível de conhecimento, vamos combinar os movimentos em formas mais complexas, como um jogo de montar, apoiados no raciocínio lógico.

Pensar para dançar? Parece estranho, pois naturalmente as pessoas acham que dançar é ouvir a música e deixar seu corpo ser levado por ela... Com um pouco de experiência os indivíduos aprendem as partes intelectuais da tarefa e a necessidade para a atividade mental eficiente (com suporte das capacidades cognitivas) é substituída por uma ênfase maior na produção do movimento (com suporte das capacidades que são mais "motoras" por natureza).

Além disto, é utilizado o canal auditivo durante o processo de aprendizagem, fazendo com que os alunos falem os pequenos movimentos para fixação dos mesmos e, também, como elo de ligação entre o que o seu corpo executa e o que a mente pensa. Os alunos desenvolvem um caminho de consciência corporal falando para o seu corpo o que fazer, e o corpo responde executando os movimentos, sendo que desta forma ficam concentrados nos passos e no ritmo.

Os deficientes visuais também desenvolvem o senso de direção: eles sabem onde está a recepção (por onde eles chegam no espaço), o bar (que está no lado oposto da recepção), as cadeiras (onde eles deixam seus pertences quando chegam) e a parede do som, considerada nossa "frente" (aonde estão as caixas de som). A partir destas referências podemos utilizar os termos "virar para a recepção", ou "começar de frente para o bar", e também desenvolver a noção de giros: 90º e 180º.

Inclusão Social


Alguns deficientes visuais, após um tempo de aprendizagem e familiaridade dentro do espaço, freqüentam aulas com pessoas videntes. Atualmente todos os alunos estão acostumados com os deficientes visuais nas aulas e eles são tratados de igual para igual, respeitando suas necessidades e sem nenhuma discriminação social. Alguns deles são muito disputados porque dançam bem e todos querem dançar com eles!

Cia de Dança Passos e Compassos

Deficientes Visuais fazem parte da Cia de Dança Passos & Compassos, ensaiando coreografias e se apresentando em diversos espaços e eventos. Tango, Salsa e Samba são alguns dos ritmos já coreografados. Outros ritmos, como Forró, Rock, Bolero, Zouk são dançados de improviso, pois nosso grupo dança todos os ritmos.
Em eventos alternamos as apresentações de dança com explicações sobre a metodologia e as particularidades de cada coreografia.
Em todas as coreografias há deslocamentos pelo palco e mudanças de direção, o que sempre deixa o público muito impressionado com a percepção dos dançarinos.

Tango
A primeira coreografia do grupo foi um Tango, por causa do desafio que um dos deficientes visuais, Renato, fez para Solange: "eu duvido você ensinar Tango para nós". Além de ensinar, ela aplicou os conhecimentos na montagem de uma coreografia de Tango. A música "Perfume de mulher" traz a lembrança de Al Pacino, interpretando um deficiente visual, dançando Tango no filme homônimo.

Os bailarinos, deficientes visuais, começam sozinhos, do lado oposto ao de suas parceiras. Caminham em direção ao seu par e ao se encontrarem fazem deslocamentos em volta do outro, demonstram seu equilíbrio ficando um tempo em apenas uma perna, encontram seu par e fazem pose.

Salsa
A primeira apresentação da coreografia "Salsa com outros olhos" foi no Congresso Mundial de Salsa de 2005, onde emocionou todo o público que aplaudiu intensamente a coreografia em pé.
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Os bailarinos, deficientes visuais, saem um de cada lado do palco, com suas bengalas, caminhando e batendo no chão a marcação mais característica da Salsa: a clave. Conforme os instrumentos são acrescentados na música, os bailarinos dançam com as bengalas, fazendo desenhos acima da cabeça ou ao lado, além de passos e giros típicos da Salsa, sozinhos.

Em determinado momento as bailarinas arrancam as bengalas da mão deles e simbolicamente quebram-nas, com ensurdecedores aplausos de todo o público. Enorme surpresa quando eles fazem giros de 360º, que são extremamente técnicos, e outras figuras de Salsa com completo domínio dos movimentos.

O público novamente vai ao delírio com a acrobacia onde as garotas viram uma estrela nas pernas deles, e termina com a comoção de todos na pose final. Para todos os lados havia alguém emocionado, enxugando uma lágrima

Samba-rock
Os bailarinos saem de um lado do palco, caminhando com suas bengalas, quando "vêem" as bailarinas que passam por eles. Rapidamente utilizam suas bengalas para laçá-las, e então soltam as bengalas para dançar com as garotas.


Fazem diversos desenhos nos braços, que são a característica mais marcante do samba-rock. Poses e passos aéreos realçam as paradas da música, e terminam em uma pose surpreendente.

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